PONTO DE VISTA | O poder de compra dos 50+

PONTO DE VISTA | O poder de compra dos 50+

Uma renovação profunda nos conceitos preestabelecidos que definem a relação entre as compras em farmácia e consumidores que compõem a faixa a partir de 50 anos de idade se impõe, sendo comprovada por pesquisas e levantamentos desenvolvidos e divulgados por institutos e profissionais de renome, dentro e fora do país. Uma geração que encara o avanço da idade com os olhos voltados à prevenção, ultrapassa os 50 anos com interesse em itens que compõem as categorias vendidas na farmácia e que tem como objetivo a busca da longevidade, com autocuidado, bem-estar e vitalidade em primeiro lugar, sempre.

A “economia prateada” ou “economia sênior”, termos criados para designar o segmento econômico que atende a população com 50 anos ou mais, vem tomando forma e chamando a atenção do mercado para novos comportamentos e hábitos diários assumidos por esse consumidor. A inversão da pirâmide etária, ou seja, a diminuição da base da pirâmide populacional, composta pela população jovem e, ao mesmo tempo, o crescimento do topo da pirâmide, composta pela população mais madura, revela esse movimento no Brasil e no mundo, impulsionado principalmente pelo declínio das taxas de natalidade e pelo alcance de maior longevidade, no Brasil a expectativa de vida cresceu cerca de 40% nos últimos 60 anos. 

Números do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam para um total de aproximadamente 55 milhões de pessoas 50+ no país, número que representa 26% da população nacional. Segundo pesquisas realizadas pela Data8, consultoria especializada, brasileiros com 50 anos ou mais movimentam cerca de R$ 2 trilhões/ano, com projeções que indicam o aumento desse valor de forma progressiva e a curto prazo. De acordo com Flávio Barros, analista de Competitividade do Sebrae, “é necessário pensar que essa parcela da população, formada por um consumidor diferente devido às suas características fisiológicas e sociais, tem suas deficiências físicas e cognitivas, mas tem autonomia, bom poder aquisitivo, dentre outras características. Por isso, precisa de um atendimento diferenciado por parte do lojista, do prestador de serviço, porque, diferente do que muitos pensam, esse consumidor da longevidade não consome só saúde”.


Na farmácia, atenção a novos hábitos e desejos

Viver mais e melhor entre os seniores têm se transformado em um estilo de vida, com metas que incluem vitalidade para realizar passeios e viagens, atuar em uma nova área no mercado de trabalho, iniciar um novo relacionamento pessoal, enfim, investir em qualidade de vida. Para o mercado farma, um leque de novas possibilidades em negócios se abre, pronto para receber esse consumidor, suas aspirações para o presente e planos para o futuro.

“Saúde e bem-estar vêm se tornando muito mais um estilo de vida do que apenas uma tendência. Com a expectativa de vida aumentando, é fundamental criar novas estratégias, produtos e encontrar melhores formas de se comunicar com esse consumidor. Envelhecer bem para esse consumidor conectado, atual, ativo, consciente e interessado ganhou um novo significado. Ter uma aparência saudável é a prioridade para as pessoas que buscam viver mais e melhor. Para atingi-los, os produtos têm de se concentrar na promessa de oferecer uma aparência saudável em todas as fases da vida, e não em fazer o tempo voltar atrás. Essa onda sênior traz desafios e oportunidades para o setor de farmácias: se por um lado novos fármacos ajudam a controlar ou curar doenças, por outro, as vitaminas, suplementos e produtos de HPC garantem melhor imagem e qualidade de vida. Ambos passam a ser objeto de seus desejos”, diz Silvia OSSO, consultora e especialista em Varejo. 


Foto: iStock.com/ljubaphoto


Viver mais e melhor! 

Novos produtos entram no radar desse consumidor que busca novas possibilidades, principalmente quando falamos em autocuidado. Em ampla pesquisa realizada pelo IFEPEC (Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa) em conjunto com o NEIT Unicamp (Núcleo de Economia Industrial e Tecnologia), o Estudo do Mercado Sênior revela alguns números significativos que apontam algumas mudanças de cenário quando falamos em hábitos de compra. 

O estudo revela que a procura pelo menor preço dos produtos continua sendo apontado como fator mais relevante para decisão de compra de 91% dos entrevistados, mas divide espaço com a localização da farmácia, levado em consideração por cerca de 60%. Disponibilidade de estoque, com 54,4%, estacionamento, com 52,9% e qualidade no atendimento, 39,2%, compõe os 5 critérios mais citados. "Esse público, além de crescer em número, está consumindo cada vez mais nas farmácias. Estas, por sua vez, devem se adaptar para atender esse público, o que impacta diretamente nas estratégias de venda", ressalta Edison Tamascia, presidente da Febrafar. Outros dados da pesquisa revelam que 56,4% dos entrevistados disseram necessitar de ajuda do atendente para localizar medicamentos isentos de prescrição (MIPs), e quanto aos serviços disponíveis em farmácias, dos consumidores que utilizaram algum serviço, aferição de pressão e aplicação de injeção continuam sendo os mais solicitados.

Para Silvia OSSO, vale observar que “os seniores têm o poder de compra em suas mãos. Com as “reviravoltas” na economia global e o déficit de empregos, os longevos passam a ter em suas mãos a renda. A maioria é aposentada e vários conseguiram poupar para viver uma velhice estável, até mesmo aqueles que têm aposentadoria mínima. Eles buscam uma aparência mais saudável: esse é o benefício que os consumidores seniores mais desejam dos produtos de cuidados pessoais. Essa geração é mais interessada em qualidade e durabilidade dos bens. Segundo apontou a Nielsen, no Brasil, tanto a Geração Silenciosa (mais de 65 anos) quanto a Baby Boomers (de 50 a 64 anos) são propensas a pagar mais por produtos que possam ajudá-las a ser mais saudáveis. Além disso, 40% dos Baby Boomers procuram produtos premium para cuidar dos cabelos e 38% para a higiene oral. E a Geração Silenciosa elege os produtos premium para o corpo (37%) e para o cabelo (31%). Para essa geração, os produtos precisam estar fortemente centrados em resultados que passem a ideia de boa aparência. A maioria declara que não pretende rejuvenescer, mas manter a pele, principalmente do rosto cuidada e com viço”.


Foto: iStock.com/Neustockimages


Ambiente digital amistoso, impulso nas vendas 

O ambiente digital, considerado uma barreira quando falamos em consumidores seniores, já conquista um grande número de usuários apresentando versões mais intuitivas e lúdicas, assim como ambientes mais seguros para escolha, pagamento e entrega dos produtos. O Estudo do Mercado Sênior, da Febrafar, revela que “em relação aos hábitos de compra, o estudo mostra que, embora a maioria dos consumidores (86,6%) ainda prefira realizar suas compras presencialmente, vem ocorrendo uma ligeira migração para o ambiente digital: cerca de 17,5% dos entrevistados mencionaram utilizar o WhatsApp para realizar pedidos e 8,7% utilizam aplicativos de farmácias. Esse crescimento, embora ainda tímido, representa uma mudança de comportamento quando comparado aos dados de 2020, quando o uso de plataformas digitais para compras era menor”.

Outras necessidades também são percebidas e se revelam determinantes na escolha da melhor opção de compra. “Praticidade e bom atendimento são destaque, o grupo de consumidores seniores está fortemente focado em serviços. Se receberem um atendimento adequado na loja ou via mídias sociais, que respondam às suas expectativas, é muito mais provável que comprem e permaneçam fiéis. Eles valorizam a simpatia e a experiência dos funcionários, e o tamanho da fila para atendimento e pagamento são um motivo de escolha", diz Silvia OSSO, e complementa, “o envelhecimento da população coloca no mercado uma nova leva de consumidores, com gostos e necessidades bem específicos. Olhar para esse fenômeno com atenção e cuidado pode garantir a melhora na performance de vendas e experiências de compra”.